Un Giardin sul Balcon

"Non ghe xe erba che la varda in sù che non la gabbia la so virtù" (da tradição vêneta)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Solaço


O sol anda castigando aqui em Teutônia. No primeiro dia de sol forte (e isso que nem estamos no verão), perdi umas sete ou oito espécies, com sombrite e tudo. Resultado: coloquei o que pude dentro de casa. Não adianta molhar: as folhas cozinham no sol. Há um lado bom em ter as ervas plantadas em vasos - a gente consegue protegê-las um pouco da fúria elemental.

Bìgoli dal Giardin


Tempos atrás, pedindo um spaghetti com ervas num restaurante, fiquei tremendamente frustrada. Além de massa requentada e dura, as ervas eram secas e irreconhecíveis. Nem mesmo quis terminar o prato e saí jurando não retornar. Hoje, folheando um livro que trouxe da Itália, com receitas maravilhosas de uma trattoria que se situa em meio a uma horta, reacendeu-se em mim o desejo.

Com minhas ervas dentro de casa em função do calor, tudo o que fiz foi cortar umas folhinhas de orégano, cerefólio, cebolinha, funcho bronze, tomilho-limão, erbastella e erbasilena. Lavei, sequei e, enquanto a massa cozinhava, cortei as mais resistentes ao cozimento. Escorri a massa e salteei num resto de óleo de umas alcachofras em conserva que andei comendo, pimenta moída, folhas de oliveira em pó (trouxe do congresso, achei fantástico) e as ervas frescas cortadas. Por cima, ervas delicadas e inteiras.

Não concordo em moer as ervas na cozinha, pois todo o óleo essencial das ervas fica na tábua e não no prato. Especialmente quando se trata de um sabor tão sutil quanto o do cerefólio. Também não sou eu, com a minha faca, quem irá questionar a beleza do design dessas folhinhas. Gosto que fiquem assim, inteiras, e que meus dentes rompam a delicada estrutura, liberando o sabor dentro da boca. Mais um fio de azeite, queijo ralado e tomatinhos do meu tomateiro que "maçariquei" e deixei no ramo mesmo. Tem como parecer mais fresco do que isso? Essa é a experiência sensorial que espero quando peço algo simples como uma massa às ervas: frescor. Não há como alcançar isso com ervas secas. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ideias Mil


Ok, ok, todo mundo sabe que vasos muito pequenos resultam em vida curta para nossas ervas, mas eu achei essa ideia lá no Mesa Tendências, no Senac São Paulo e tive de fotografar p mostrar p vcs. Pensei em adaptar com aquelas conchas maiores, de refeitório, devidamente furadas e forradas de manta. Ficaria lindo no recanto de algum jardim gourmet, não?

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Homegrown Revolution


"Growing your own food is empowering. In fact I believe that growing food is one of the most dangerous occupations in this world, because you are in danger of getting free" - Sugestão do meu amigo e seguidor deste blog, o Jefferson Pietroski Mota, aqui está um exemplo do que se pode fazer com o que se tem, agora: homegrown revolution  ou homegrown revolution trailer . Esse curta arrebatou prêmios em festivais de cinema ambiental. Assistam e se emocionem, como eu!

Pé de Açúcar



Na agricultura de apartamento vale tudo: inclusive apelar para objetos variados na falta de vasos e cachepots. O regador entupido recebeu uns furinhos embaixo para permitir o escoamento da água e uma camada de manta de drenagem, terra e a muda de Salvia purpurascens. Use um preguinho e um martelo para furar e faça furos largos, generosos. Já o bule antiguinho eu tive pena de furar e só usei para esconder uma garrafa pet cortada e furada, também forrada com manta de drenagem para receber minha estévia (Stevia rebaudiana). Por sinal, essa planta é outro dos tesouros desse continente maravilhoso. Os primeiros colonizadores europeus viram os índios paraguaios adoçarem o mate com folhas de estévia. O poder de adocicar é 300 vezes superior ao da sacarose! A folha é doce, doce, estou encantada! No início do século passado, Inglaterra, Rússia, EUA e Polônia já pesquisaram essa planta e levaram consigo muitas mudas para criarem programas de substituição do açúcar de beterraba. Na década de 80, foi a vez dos japoneses ressuscitarem as pesquisas sobre ela e a importarem em grandes volumes. Para variar, nós, os proprietários, nem reconhecemos o que os outros vem catar no nosso jardim de milagres. Pensando melhor, eu deveria ter plantado a estévia num açucareiro!!!

Lack of containers is not an excuse for a vertical gardener. In these examples, I have recycled some oldies by making holes in its bottom and layering it with gardening fabric. The tea pot is just the cachepot for a recycled (and unaesthetic) plastic bottle. The plants are a purple sage (Salvia officinalis var. purpurascens) and stevia (Stevia rebaudiana), the latter a South American treasure as its leaves contain a huge amount of a glucoside which has a 300 times greater sweetening power than regular sacharosis.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Compostagem

http://youtu.be/pZg4Fp0hnNE

Como as fotos da composteira da Ana fizeram sucesso, posto aqui o link do vídeo que ela usou como guia para fazer a dela. Essas caixinhas são verdadeiras maravilhas, porque economizam o dinheirão que a gente gasta com terra, permitem um descarte mais ecológico dos resíduos da cozinha e das folhas secas do jardim, enfim, uma coisa boa. Já estou guardando borra de café para começar a minha. Boa sorte para todo mundo que tentar, mandem notícias!

Erva o quê?


Esse foi meu almoço hoje: polenta brustolada, funghi cultivados aqui em Teutônia, pesto de sclopit.


Erva Silena, Sclopit ou Stridolo, são todos nomes da Silene inflata. Conhecido só no Friuli e usado em geral durante a primavera, o sclopit dá às fritadas e risotos um gosto que não se pode apagar das papilas. Gosto dessa descrição do Fred Plotkin: "ardente, levemente embolorada, fortemente gramínea". Foi o Fred, aliás, quem primeiro me falou dela. Comprei as sementes na internet e hoje tenho esse pezinho aí da foto, pequeno ainda, mas vigoroso. Ela parece gostar de sol e terreno mais seco que úmido. Não se importa com o vento e tem uma delicada floração branca. Em Udine, num cantinho desvalorizado de uma delicatessen mal-atendida, achei um vidrinho feioso de "pesto friulano". Ao olhar os ingredientes, que surpresa! Era ele, o sclopit, processado com nozes, sal e azeite extravirgem.
Sou fissurada em gostos que transportam a gente de volta às raízes, quer culturais, quer vegetais. Quando cozinho, tento repartir com as pessoas essa minha viagem. Tenho uma até uma categoria especial de ervas para conseguir isso: o menstruz (Coronopus dydimus), o cren (Tropaeolum pentaphyllum) e agora, o sclopit. Até o nome soa atávico aos meus ouvidos, porque termina com aquele "t" in staccato do idioma friulano: SclopiT, bem como meu avô pronunciava nosso sobrenome, ValenT. Seria exagero se eu dissesse que esses sabores tem o poder de me recordar quem sou eu, de me arrancar da vida corriqueira e me levar ao fundo da mata, aonde mora o meu coração?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Arcabouço da Beleza


 "Raramente vemos o arcabouço de dor que se encerra no verde de um dia de verão." J.A. Baker

O olhar ocasional sobre um jardim não é capaz de penetrar o coração de tanta beleza. Vê-se o verde, veem-se flores, frutos e vigor, gotas sobre a pele lustra da folha, galhadas. A verdade é que a jardinagem é uma guerra marcada por mutilações, eugenia, morte e envenenamento e que a vida não avança sem ferocidade, sem um tanto de feiúra nada idílica.

O bok-choy (Brassica rapa chinensis) da primeira foto rebrotou da raiz de outro pé, cultivado em hidroponia, comprado no super, guardado durante dias numa geladeira. Vejam o enredo: um ser verde submetido a todas as distorções possíveis em seu ciclo de vida renasce na terra bruta e até floresce. Chegam as lagartas, roendo a esmo as folhas, e hordas de ácaros que o impedem de respirar. Vem a mão humana outra vez, desta vez catando as pragas, lavando, passando substâncias fétidas que matam e afastam os insetos. Um jardineiro é um assassino de insetos (inclusive de borboletas) e um ladrão (quem sabe um Robin-Hood) de segredos corporativos - quase um espião, surrupiando aqui e ali, sem descanso, a semente, o ramo, a raiz, a muda.


Não se iludam. O fruto gracioso só vinga diante da morte de centenas de moscas brancas. E amadurece guardado por fios grudentos, armadilhas sanguinolentas, em que o predador morre torturado, de fome, olhando o alimento. O tomate parricida mata a sangue frio o tomateiro se a água for pouca.


Mas a natureza oferece de graça a lição da dialética: não há vida sem morte, nem beleza sem ferocidade. Não há corpo sem vácuo, nem ordem sem caos. Na simetria milagrosa da folha da uvaia, mora a memória do fruto podre do qual salvei a semente. As cores impressionistas das centáureas que hoje vicejam evocam as centenas de mudinhas que perdi para as pragas, para as torrentes de outono, para o sol inclemente que traz a vida enquanto a leva embora. O conflito é parte inerente do caminho. Não há nada fatalista nesse pensamento, apenas uma leve frustração para minha mente preguiçosa, que insiste em buscar realidades unidimensionais sobre as quais repousar. 

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Curso

My little box of colours

These are some photos from my crash course on herbs and spices, held on ICIF (Italian Culinary Institute for Foreigners) last weekend. To explore local and distant flavours, we've cooked a whole meal (antipasto, primo, secondo and dessert) and then some more sauces and pestos, sweet and savoury ones. All the greenery below has come from my humble vertical, apartament garden. I post this with best regards to my terrific pupils and to prove it IS possible to grow your veggies at home, no matter the space you have.



Kisses, folks!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Aos Fortes de Coração


Jardinagem ensina muito sobre a vida. A metáfora é óbvia demais, mas é mesmo a vida em micro-cosmo. Claro que as minhas vizinhas foram um amor em regar minhas 200 plantas enquanto estive fora, mas minha ausência se fez sentir. Além de uma dúzia de plantas perdidas, muitas pragas tomaram conta. Há uns três dias que ando entre os vasos e estimo o trabalho que terei para colocar o jardim no prumo uma outra vez. Meses. Talvez até fevereiro, considerando o tempo que tenho para jardinar. Olhando a imagem desoladora aí abaixo, juro que contive o impulso de atirar tudo fora.


É isso. Jardinagem é para os fortes de coração, porque demanda grande tolerância às frustrações. Retire a libido de um jardim por trinta dias e ele sofrerá um baque profundo, demorando muito tempo para recobrar-se. Alguns aspectos jamais tornarão a ser como antes. Somos nós que temos de cuidar do que é nosso e mais ninguém. Não se delega um jardim. As pragas são como os problemas, os rancores não verbalizados. Ignore-as e elas destruirão tudo, minando a partir das raízes o que antes frutificava.

Agora vejo os efeitos danosos da procrastinação em todos os jardins da minha vida: meu corpo é um jardim, meu casamento é um jardim, meu trabalho é um jardim, minhas amizades também o são. Tenho de cuidar de todos os meus jardins, a fim de colher todos os seus dons. Mas o cuidar é um prazer disciplinado. Só ele traz a satisfação que é a molécula da vida bem vivida.

E em tão pouco tempo, é incrível como tudo ganha novo viço, responde ao amor! A berinjela mini-purple que ontem murchava, coberta de pulgões, depois de lavada, folha por folha, pulverizada com água de fumo e cercada de terra afofada, hoje parece sorrir, prometendo que florescerá de novo. O jardim me ensina o planejamento e o desfrutar. Assim, minha vida entre tantos jardins vai ganhando um aroma suave de equilíbrio.

domingo, 6 de novembro de 2011

Frutos do Giardin





Essas fotos me deixam muito, mas muito feliz! São os registros das iniciativas de amigas minhas em começarem seus próprios jardins comestíveis. Ambos em porto Alegre, um deles em terraço de apartamento, o outro num pátio de condomínio horizontal.
A Andréia Bonato, do blog Casa de Babette (link ao lado) o faz por motivos gastronômicos. A Ana Luíza Koehler (a mais talentosa desenhista de todos os tempos), o fez por consciência ecológica. Ambas ganharam de presente uma desintoxicação dos sentimentos e ansiedades gerados pelo distanciamento que a cidade provoca entre o homem e seu ofício central, que é a busca do alimento.
A Andréia, psicóloga de corpo e alma, é mestra em criar ninhos e fortalecer laços de amizade. Quem tem um fogão a lenha construído no meio da sala não poderia cozinhar... com ervas secas de potinho de plástico. Enquanto ela "jardineia", medita e pensa nos amigos queridos, restaura as forças.
Com as sementes dos alimentos consumidos que germinaram naquela composteira de plástico, a Ana está presenciando o milagre de ver as sementes virarem mangueiras, bergamoteiras, "lentilheiras" e assim por diante. Ela já não se chateia de ter de acondicionar num saco de plástico os resíduos domésticos que tão facilmente se transformam em vida. Um terraço antes meio abandonado se transformou no novo coração da casa. Um espaço verde em casa se converte em algo ainda mais fundamental quando se trabalha em regime de home office como a Ana.



Desculpem meu fanatismo, gente, mas a cada dia, eu creio mais na jardinagem como um caminho para o resgate das sensibilidades humanas, diante de toda a barbárie que temos vivido. plantar aproxima, cria uma comunidade de sentido aos desgarrados filhos da cidade, ressignifica o cotidiano, permite a expressão de elementos em estado bruto, não codificados dentro de nós. Coltivando la terra si coltiva anche la felicità.
Ainda tem o sítio Arupa, da minha amiga paula priya, que se mudou p Viamão a fim de reconstruir seus trajetos telúricos. Mas essa é ooooutra postagem...




Giuggiole



Xeretando numa fruteira em pordenone, conheci os giuggiole, ou tâmaras chinesas (Ziziphus zizyphus). A dona da fruteira me deu duas de presente para provar, depois de uma conversa sobre a etimologia da palavra giuggiole, e me comentou que o preparo clássico era o brodo di giuggiole, um licor e não uma sopa, como imaginei. Dizer "sono in brodo di giuggiole" equivale a dizer "estou muito contente". Apesar de chinês em sua origem, o giuggiolo é cultivado na Itália desde os romanos, que viam nele um símbolo de silêncio, tanto que consagravam a árvore à deusa da prudência. Silenciarei também eu, até que possa contar novidades sobre o giuggiolo...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Horto

O Horto, delimitado por uma treliça, é composto de dezoito canteiros retangulares de vime trançado, com caminhos de toquinhos de castanheira (uma linda ideia para aproveitar os galhos menores das árvores abatidas: no paisagismo). As plantas foram organizadas tematicamente:

1. plantas alimentares de folha: ervas do campo e folhas de salada - rúcula, chicória, borragem, aipo, funcho, acelga, alface, agrião, mostarda, cardo e um misterioso "atreplice", todas citadas já por Carlos Magno, rei dos francos, no famoso decreto que determinava as espécies a serem cultivadas nos hortos do reino.

2. plantas alimentares de raiz/bulbo: cebola, alho, echalote, cenoura, bardana, raiz-forte e cia. Desempenhavam um papel central na alimentação medieval por serem de fácil conservação.


3. Legumes e cereais: aveia, trigo sarraceno, espelta (colhidos na primavera), feijões, grão de bico, ervilhas, favas e feno-grego (colhidos no verão e no outono).

4. Curcubitáceas e hortaliças de fruto: pepinos, melões, abóboras de pescoço e berinjelas foram trazidos, quero dizer, levados pelos romanos desde o norte da África e a Índia. Tinha também uma tal de abóbora selvagem (será q tem alguma coisa a ver com a banda Kid Abelha?) que hoje é considerada venenosa, mas foi bastante consumida na idade média, inclusive pelo rei Carlos Magno.

5. Ervas condimentares:sálvia, alecrim, segurelha e orégano são ervas mediterrâneas, que passaram a ser cultivadas também no norte da Itália em função dos princípios da Escola de Salerno, a mais importante instituição médica da antiguidade, que até hoje é referência mundial em fitoterapia e organiza jornadas de curas naturais (mas esse seria outro capítulo...).

6. plantas espontâneas: funcho, alcaravia, cominho, levístico, cerefólio, salsa, manjerona...isso é para a gente ver que muitos dos temperos que empregamos eram "capoeira", "matinho" para os europeus. Creio que devamos estudar mais as nossas próprias ervas, a fim de que elas deixem de ser "não-convencionais" para nós.

7. plantas para tecido e uso doméstico: linho e cânhamo (sim, a própria Cannabis sativa), plantas cujo fruto servia de instrumento para cardar a lã ou raizes que coalhavam queijo, ou mesmo a saponária (Saponaria ocymoides), que servia como xampu.

8. plantas para extrair corantes: dessas eu só conheço a isatis (Isatis tinctoria) e o açafrão (Crocus sativus), azul e amarelo, respectivamente.

9. "O Jardim de Maria": olhem só que tri: em cada horto medieval, havia um setor reservado às plantas consagradas à Nossa Senhora, em geral rosas delicadas, lírios e outras flores que simbolizassem pureza.

10. plantas decorativas: serviam para fazer tapetes de flores nas procissões, costume que algumas cidades do interior gaúcho ainda preservam no dia de Corpus Christi - centáureas, papoulas, margaridas, sálvias do tipo alegria-do-jardim.

11. Venenosas: belladona, digitalis, arruda, acônito, serviam para matar, afastar o diabo ou salvar vidas, quando usadas com cautela, como as duas primeiras, muito úteis nas arritmias cardíacas até hoje.

12. Mágicas: plantas que, na tradição medieval, eram ligadas aos signos, à bruxaria ou à alquimia, como a mandrágora e a alchemilla.

13. Sinais da Natureza: a medicina medieval associava a morfologia da planta ao órgão que ela deveria curar ou favorecer. Assim, temos associações que perduram até hoje na medicina popular, como a pulmonária para os pulmões e a hepática para o fígado. Vi isso outro dia, no relógio das ervas que a Emater ensina a fazer. Aqui no Brasil, vejo frequentemente confundirem a Stachys byzantina (lambari de horta) com a pulmonária, que é essa aí embaixo:


14. panaceias: malva, calêndula, betônica (mais conhecido que a betônica - expressão popular ainda em uso), angélica (que diziam curar até a peste) e sálvia (quem tem salvia, admiro-me que morra - máxima salernitana).

15. relacionadas com o sangue: aquiléia, potentilla (potentilla anserina) e hipérico - ervas que sempre se tinha à mão, no estojo de primeiros socorros, pois estancavam hemorragias e curavam feridas.


16. digestivas e purgativas: o povo sempre acreditou no poder das ervas amargas em favorecer a digestão e estimular o apetite. São vários os bitters e digestivos ao redor do mundo que o atestam: o unicum húngaro, o chartreuse francês, todos os amari italianos...meu tio-avô gaudério, tio pedro, casado com a minha tia-avó Leta, irmã da minha avó, gostava de uma folhinha de losna num copo de água gelada na manhã do reveillon. Lentilha e carne de porco à meia-noite, ninguém merece mesmo.

17. anti-térmicas: altea, filipêndula, verbasco - espontâneas no campo, trazidas para os jardins murados dos castelos para agir como aquele paracetamolzinho que todo mundo toma de vez em quando. Antes dos antibióticos, baixar as febres devia mesmo ser questão de vida ou morte.

18. plantas para "doenças de senhoras": geralmente, os tratados de erborística eram escritos por homens, mas sempre havia muitas receitas para questões ginecológicas, quase sempre empregando melissa, losna ou arruda (pobrezinhas das pacientes!)

Il Giardino del Castello

Como expliquei na postagem anterior, fiquei ausente por um mês, mas os motivos são excelentes: visitei algumas cidades italianas e estive no Mesa Tendências, um ótimo congresso promovido anualmente pelo Senac-São paulo. Viajei imbuída de um espírito investigativo/xereta e voltei com a máquina fotográfica e as malas cheias de novidades, as quais pretendo dividir prolificamente aqui nesse blog e nas minhas aulas por aí.

O horto da foto acima localiza-se bem no centro de Torino, a capital do piemonte, região italiana próxima à França. Faz parte de um projeto que reconstruiu, com base em relatos e imagens medievais, os jardins do palazzo Madama, o castelo da cidade. No antigo fosso, estão hoje o jardim do príncipe, o horto e o pomar, mais ou menos como eram entre os anos de 1402 a 1516.

Claro que fiquei encantada com essa descoberta. Imaginem só, encontrar no centrão de uma cidade, um espaço verde com "50 espécies de hortaliças, 112 ervas medicinais, 31 frutíferas, 22 rosas e 130 plantas espontâneas e ornamentais"! É o que o meu giardin quer ser quando crescer! Atentem, queridos leitores, para o fato de que a propaganda oficial elenca as plantas espontâneas com a mesma importância das demais. Essa valorização do que é local surge assim, nesses detalhes, mas é uma ação-chave nesse processo, do qual ainda carece tanto a nossa flora brasileira...

Colocarei, na avalanche de postagens a seguir, fotos minuciosas desse e de outros espaços verdes que conheci, propositais ou não, nas regiões italianas do Friuli e do piemonte.